Cinco anos depois da chegada da Covid-19 ao Brasil, o país ainda enfrenta fragilidades no sistema de prevenção e controle de pandemias. Segundo o médico sanitarista e professor da Universidade de São Paulo, Gonzalo Vecina, o país não fez o “dever de casa” e permanece exposto a novas crises sanitárias globais.
“A probabilidade de acontecer uma nova pandemia é muito grande e relativamente esperada”, afirma Vecina.
Falta de estrutura para vigilância epidemiológica preocupa especialistas
Para reduzir os impactos de futuras pandemias, o especialista sugere a criação de um comitê de vigilância e controle de transmissão. Ele defende um modelo semelhante ao da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mas com autonomia para monitorar e rastrear microrganismos.
“A criação de uma agência autônoma permitiria identificar e conter ameaças antes que elas se tornem uma crise global”, explica Vecina, destacando que países mais preparados já adotam esse tipo de estratégia.

Três fatores aumentam o risco de novas pandemias
Vecina aponta três principais fatores responsáveis pelo surgimento e disseminação de novas pandemias:
- Pressão ecológica – A intervenção humana em habitats naturais de animais selvagens força microrganismos a encontrarem novos hospedeiros, aumentando o risco de transmissão para humanos.
- Aves migratórias – Essas espécies podem transportar patógenos de um continente para outro, facilitando a disseminação de doenças.
- Viagens internacionais – O alto fluxo de passageiros ao redor do mundo acelera a propagação de infecções.
“Hoje, milhões de pessoas viajam diariamente. Uma única pessoa infectada pode espalhar um vírus em questão de horas”, alerta o sanitarista.
Brasil precisa investir em prevenção para evitar mais mortes
O surgimento das vacinas reduziu drasticamente o número de óbitos causados pela Covid-19, mas surtos sazonais ainda ocorrem. Para enfrentar futuras ameaças sanitárias, o Brasil precisa se estruturar melhor e adotar políticas de vigilância mais eficazes.
Vecina reforça que, com os cuidados adequados, o país pode enfrentar novas pandemias com menos impactos e menos perdas humanas. “A preparação hoje define o nível de tragédia que podemos evitar no futuro”, conclui.
*Entrevista ao jornal Valor Econômico.