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PESQUISA

Nova terapia contra o câncer cria células de defesa direto no corpo e anima cientistas

Estratégia chamada de CAR-T in vivo pode tornar tratamento mais rápido, barato e acessível para pacientes com câncer no sangue
Nova terapia contra o câncer cria células de defesa direto no corpo e anima cientistas

Cientistas estão cada vez mais perto de transformar a forma como alguns tipos de câncer são tratados. Estudos recentes publicados na revista Science mostram que já é possível criar, dentro do próprio corpo do paciente, células imunológicas capazes de localizar e destruir células cancerígenas, como verdadeiros “mísseis guiados”.

A técnica, conhecida como CAR-T in vivo, apresentou resultados promissores em pacientes com mieloma múltiplo, um tipo de câncer do sangue, e pode representar um avanço importante na luta contra a doença.

O que são as células CAR-T e por que elas são importantes

As células CAR-T são células de defesa do próprio paciente que passam por uma modificação genética para reconhecer e atacar o câncer. Atualmente, esse processo é feito fora do corpo, em laboratório.

Primeiro, as células T são retiradas do paciente. Depois, recebem um gene especial que cria um receptor chamado CAR (receptor quimérico de antígeno). Só então as células são devolvidas ao organismo.

O problema é que esse processo é lento, caro e complexo. Em média, pode levar um mês — tempo que alguns pacientes, em estado grave, não têm.

Nova abordagem cria as células de combate dentro do organismo

A grande novidade é que pesquisadores conseguiram produzir essas células diretamente no corpo, usando vírus modificados para levar o gene do CAR até as células T.

Em um dos primeiros testes clínicos, quatro pacientes com mieloma múltiplo receberam esse tratamento inovador. O resultado foi animador:
✔️ As células cancerígenas desapareceram da medula óssea
✔️ Em alguns casos, tumores fora da medula também foram eliminados
✔️ Marcadores do câncer deixaram de ser detectados no sangue

Os dados foram apresentados na reunião anual da Sociedade Americana de Hematologia (ASH).

Resultados chamam atenção da comunidade científica

Para o biólogo do câncer Bin He, do Houston Methodist Research Institute, os resultados são “realmente impressionantes”, mesmo sendo iniciais.

Segundo especialistas, a principal dúvida agora não é mais se a técnica funciona, mas sim se ela será segura e eficaz em larga escala.

“A questão agora é alcançar o nível de eficácia esperado e garantir a segurança dos pacientes”, afirma a pesquisadora Yvonne Chen, da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

Efeitos colaterais existem, mas foram controlados

Durante os testes, alguns pacientes apresentaram efeitos colaterais, como:

  • Queda de pressão arterial
  • Necessidade de oxigênio suplementar
  • Confusão mental temporária

Todos se recuperaram após tratamento. Além disso, os pacientes desenvolveram a chamada síndrome de liberação de citocinas, reação comum em terapias CAR-T, mas apenas em nível leve.

Segundo estudo confirma potencial da técnica

Um segundo ensaio clínico, conduzido pela empresa Kelonia Therapeutics, apresentou resultados semelhantes. Após um mês do tratamento, nenhum dos pacientes tinha células cancerígenas detectáveis na medula óssea.

“A resposta foi muito profunda”, afirmou a hematologista Joy Ho, que apresentou os dados no congresso.

Desafios e cuidados com a segurança

Apesar do avanço, especialistas alertam que ainda são necessários anos de acompanhamento para confirmar a segurança do método. Um dos principais pontos de atenção é o uso de lentivírus, que se integram ao DNA das células e podem, em teoria, aumentar o risco de novos cânceres.

Por isso, novas alternativas já estão sendo testadas.

Nova geração pode usar nanopartículas, sem vírus

Empresas farmacêuticas estão apostando em uma estratégia ainda mais segura: o uso de nanopartículas lipídicas, semelhantes às usadas em vacinas contra a Covid-19.

Essas partículas levam apenas uma molécula de RNA às células T, evitando alterações permanentes no DNA e reduzindo o risco de efeitos colaterais graves.

Ensaios com essa tecnologia já estão em andamento para câncer e até doenças autoimunes, como o lúpus.

Futuro da terapia contra o câncer é promissor

As terapias CAR-T tradicionais já permitiram que alguns pacientes com mieloma múltiplo ficassem mais de cinco anos sem recaída. Ainda não se sabe se as versões in vivo terão o mesmo efeito duradouro, mas o avanço é visto com otimismo.

“O campo está evoluindo rapidamente”, afirma o pesquisador Bin He.
“Os pacientes devem ser otimistas.